22/01/2013

Brasil constrói usinas eólicas, mas não tem como distribuir energia


As notícias veiculadas há pouco mais de seis meses na imprensa especializada agora aparecem nos jornais, portais, revistas. Provavelmente se trata de repercussão da matéria do Fantástico. Vejam a matéria do Portal Região Nordeste disponível na Abeeólica.

Neste ano 50 novas usinas de produção de energia elétrica com a força dos ventos ficam prontas, mas não podem produzir e ainda recebem dinheiro do governo. Isso porque, por falta de planejamento, não existe a rede para levar a eletricidade para o sistema de distribuição nacional. 

As usinas são montadas por empresas privadas, que venceram os leilões do governo.

Vinte e seis delas já estão prontas, mas as hélices de geração ficam travadas, porque não tem como levar a energia para a casa do consumidor. 

A rede de distribuição é construída pela estatal Eletrobras, que enfrenta toda a burocracia das empresas públicas e ainda alega dificuldades no licenciamento ambiental. 

Se essas usinas já estivessem funcionando, o consumidor brasileiro não precisaria pagar os 150 milhões de reais gastos por mês, para manter as termelétricas a gás, a óleo e carvão, ligadas, como está ocorrendo. 

As geradoras de energia pelo vento que já estão prontas ainda recebem do governo, pois a parte delas foi honrada, conforme determina o contrato.

Abaixo alguns posts antigos deste blog com detalhes sobre o assunto: 


Consumidor pagará R$377 milhões por energia eólica que não será entregue (Avaliações de consultores do mercado falam de um total de R$ 1 bi)



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Energy Report PSR: SEGURANÇA DE SUPRIMENTO: O ESTRUTURAL E O CONJUNTURAL

Tive acesso ao relatório muito esclarecedor publicado pela PSR Consultoria. A contribuição da PSR para o entendimento do setor é historicamente bem recebida pela maioria dos profissionais. 

O relatório compara o comportamento da redução quantidade de energia armazenada total ao longo do ano de 2012 com o comportamento em outros anos. Busca, através de diversas hipóteses, entender porque o sistema partiu da melhor condição de armazenamento dos últimos 16 anos (em janeiro) para a pior condição desde a véspera do racionamento de 2001-2002. 

As conclusões do relatório nos levam a triste constatação de que faltam ainda muitos passos ao nosso país para superar as debilidades estruturais e conjunturais para gerar mais credibilidade nas medidas para garantir a segurança de suprimento nos próximos anos. Ademais o relatório permite concluir com máxima certeza que a culpa não é de São Pedro!

Deixo as demais conclusões para os senhores. O relatório completo pode ser baixado no link a seguir: 

Boa leitura!

14/01/2013

Setor eólico espera mais chances de negócio e preços maiores em 2013

A quem interessar possa. O preço da energia também está sujeito à inflação e variação cambial. A impressão é que só o governo não sabe disto. Segue matéria de Anna Flávia Rochas da Reuters.


SÃO PAULO, 14 Jan (Reuters) - O setor de energia eólica espera mais oportunidades de negócios em 2013, diante da expectativa de maior contratação nos leilões de energia nova com preços mais altos que possam dar melhor taxa de retorno aos empreendedores.

No ano passado, foi realizado somente um leilão de energia nova, no qual foram contratados apenas 574,3 megawatts (MW) de novas usinas de todas as fontes, em uma licitação marcada por demanda reduzida e preço baixo recorde da energia eólica.

Para 2013, após a retirada de autorizações de termelétricas da Bertin que tinham vendido energia em leilões passados e não entraram em operação, a expectativa é de que haja pelo menos uma contratação para suprir esse vácuo.

"Vai haver pelo menos dois leilões e o governo vai contratar no mínimo 2 gigawatts (GW)", acredita a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo, sobre a necessidade de contratação relacionada aos projetos termelétricos que tiveram a autorização revogada.

Elbia não considera que o preço médio da energia eólica no leilão de 2012 --de 87,94 reais por megawatt-hora-- seja suficiente para remunerar o investimento, e avalia que o último certame não é parâmetro para licitações futuras.

Neste ano, além da maior necessidade de contratação de energia, a presidente da Abeeólica conta com um crescimento maior do Produto Interno Bruto (PIB), de 3 a 4 por cento.

"Esperamos que os preços voltem aos patamares reais, para refletir os custos de produção e a taxa de retorno", disse ela.

Para Elbia, o preço-teto de 112 reais por MWh, estabelecido para o leilão de 2012, já não remunerava o setor eólico. Considerando a inflação e o impacto da variação cambial sobre o valor dos equipamentos, o preço da energia eólica de cerca de 105 reais por MWh praticado no leilão de dezembro de 2011 seria hoje de 124 a 125 reais por MWh.

Um dos preços mais baixos da energia eólica no último leilão, de 87,77 reais por MWh, foi praticado por sete usinas da Bioenergy, que serão localizadas no Maranhão.

O presidente da empresa, Sérgio Marques, garante que o preço remunera o investimento, mas também espera vender por preços maiores nos certames de 2013. "A rentabilidade é mais baixa, mas viabiliza o negócio", disse Marques, acrescentando que seus projetos têm uma taxa de retorno que varia de 9 a 11 por cento.

Ele explicou que a Bioenergy está montando, no mesmo local, outros empreendimentos com energia a um preço maior --de 100 a 170 reais por MWh--, o que ajuda a otimizar os custos.

A Bioenergy tem outros 14 empreendimentos considerados aptos em leilões passados que pretende colocar em licitações em 2013. "Claro que eu gostaria de vender mais caro... Espero que os próximos projetos tenham melhor rentabilidade", disse Marques.

O presidente da Dobrevê Energia (Desa), Carlos Augusto Leite Brandão, não considera possível que o preço da energia eólica recue abaixo da faixa entre 100 e 105 reais por MWh nos próximos leilões. Segundo ele, a empresa chegou a participar do leilão no fim de 2012, mas resolveu sair quando as condições de preço não atendiam mais suas expectativas.

Em 2013, Brandão vê oportunidade para vender a energia dos parques eólicos no mercado livre, diante do cenário de energia cara no curto prazo. "Temos uma comercializadora de energia e carteira de clientes no mercado livre", disse o executivo.

A Desa tem cerca de 1.300 MW de projetos eólicos em portfólio para desenvolvimento.

Brandão disse considerar a participação da Desa nos leilões em 2013, mas espera que as condições fiquem mais claras no que se refere às condições de conexão das usinas ao sistema elétrico nacional, para evitar riscos.

Parques eólicos da Desa no Rio Grande do Norte estão entre aqueles que aguardam a conclusão atrasada da linha de transmissão que está sendo construída pela Chesf, do Grupo Eletrobras, para entrar em operação enviando energia ao sistema elétrico.

Além da Desa, a Renova Energia e a CPFL Renováveis estão com parques prontos desde meados do ano passado recebendo a receita a qual têm direito, mas sem gerar energia ao sistema pela ausência da linha de transmissão.

"Esse atraso da transmissão traz sérios problemas, porque o custo parado é maior que o custo da usina operando", disse o presidente da Desa.

A linha de transmissão sendo construída pela Chesf tem previsão de ficar pronta em setembro próximo.

Resumo do ano 2012: Erros de Energia

Depois do que ocorreu no A-5 de 2012, da complicações criadas pela MP-579 e da sucessão de matérias com mais de seis meses de atrasos (já havia citado aqui) sobre os atrasos nas linhas de transmissão e real ameaça de racionamento pensei em escrever algo resumindo tudo que acontece em linguagem didática. Aí a Miriam Leitão fez antes e ficou do jeito que eu pensava fazer. 

Então segue o artigo publicado no O Globo.


Agora em 2013, entrariam em operação 6.000 MW de energia de térmicas que foram arrematadas num leilão de 2008 para entrega em cinco anos. Foram todas vencidas por um grupo neófito, que migrou da pecuária para a geração térmica com incentivo, benção e financiamento do BNDES: o grupo Bertin. O governo não exigiu conhecimento na área. O país perdeu.

O caso Bertin foi um fracasso no setor de geração e deu com os bois e os burros n’água. Ele não conseguiu fazer o que arrematou e devolveu os projetos. Se o setor de energia tivesse exigido experiência do grupo que venceu os leilões, se tivesse havido noção de que aquela concentração era perigosa, o país poderia ter mais 6.000 MW entrando agora.

No ano passado, havia quem no Operador Nacional do Sistema quisesse começar a usar as térmicas mais baratas, as movidas a gás, para poupar água nos reservatórios. Mas prevaleceu o entendimento de que se chovesse bastante no período de chuvas seria recomposto o nível das barragens.

O governo resistiu o quanto pôde a entrar nas outras fontes renováveis, como eólicas. Quando o mundo já investia pesado nessa fonte, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, o governo dizia que era caro demais. Quando, enfim, decidiu levar essa fonte mais a sério, o preço caiu, como acontece sempre em economia de escala. Parte dos parques eólicos, no entanto, está sem interligação por falta de linhas de transmissão. Hoje, há o mesmo desprezo por energia fotovoltaica. E, contudo, ela vai se firmando como uma das opções para compor uma matriz diversificada como tem que ser.

Quando se fala que faltou planejamento, é disso que se trata. Esses três exemplos ilustram a falta de um comando no Ministério das Minas e Energia que tome providências certas no tempo exato.

Nas crises, as autoridades culpam “problemas ambientais” pelos atrasos. É como se o meio ambiente fosse um estorvo. Consórcios, empresas, governo não cumprem determinações do licenciamento e depois culpam as decisões judiciais. O que é necessário é levar sempre em consideração a variável ambiental na hora de fazer as escolhas e cumprir o exigido e assinado nos contratos.

Nas crises, aparecem todos os lobbies de volta. O setor elétrico é fragmentado em interesses os mais diversos. Tem os barrageiros, que acham que a solução será sempre hídrica. O problema aí é que o potencial remanescente está cada vez mais fundo na floresta e os custos não estão bem avaliados. Custos financeiros e fiscais, além dos ambientais e sociais. Uma hidrelétrica a dois mil quilômetros dos centros de consumo exigirá esforço enorme e caro em linhas de transmissão. Já apareceram defensores de se refazer o projeto de Belo Monte na forma original, com cinco hidrelétricas que inundariam uma enormidade no meio da mata. E há sempre os que defendem a nuclear.

O que é preciso perguntar é se é o melhor continuar apostando tanto em energia hidrelétrica, quando os regimes hídricos estão ficando cada vez mais imprevisíveis, e o Brasil já depende enormemente da energia das águas.

Reapareceram também defensores de usinas a carvão, que é a mais suja das fontes de energia, e os projetos que foram abandonados depois de 2009 eram em sua maioria dependentes de um carvão importado da Colômbia.

Se chover muito, acima da média, nos pontos certos de Minas Gerais, o Brasil poderá respirar aliviado, mas o país não pode ir de susto em susto. Precisa diversificar sua matriz com uma inclinação a favorecer as fontes mais limpas, não por exigência de movimentos ambientais, mas porque isso é mais sensato em tempos de mudança climática.