23/02/2012

Pioneiras, eólicas do Proinfa geram abaixo do previsto no Nordeste

Enquanto projetos amargam potência efetiva abaixo do estimado, plantas de leilões chegam a gerar acima da garantia física
O parques eólicos implantados por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) na região Nordeste recebem uma tarifa que, atualizada, chega a cerca de R$300 por MWh, mas geram abaixo de suas garantias físicas. Enquanto isso, os primeiros projetos viabilizados por leilões, que já começaram a funcionar no ano passado, apresentam números mais próximos das previsões - chegando a ultrapassar o fator de capacidade declarado em alguns meses.
A conclusão aparece após análise de dados públicos disponibilizados no portal do Operador Nacional do Sistema (ONS), que mensalmente relata o desempenho da geração eólica no País. Dentre as usinas com desempenho listado, destaca-se a eólica Praia do Morgado - que gerou, efetivamente, apenas 51% de sua garantia física em 2011. A planta, inclusive, já havia registrado geração até mesmo um pouco menor em 2010. Já a usina de Praia Formosa contribuiu com apenas 58% de sua garantia física ao longo do ano, desempenho pior que em 2010, quando havia entregado cerca de 74%.
Das 13 usinas acompanhadas pelo ONS na região Nordeste, nenhuma delas conseguiu atingir o fator de capacidade estimado. Ainda assim, os projetos mais recentes, como as usinas de Mangue Seco, no Rio Grande do Norte, que pertence à Petrobras, apresentam números melhores. Com exceção da EOL Mangue Seco 5, que gerou 57% do previsto, as outras cinco plantas do complexo tiveram eficiência de entre 81% e 92%. Em alguns meses, os projetos geraram mais do que a capacidade estimada, devido aos bons ventos.
Na região Sul do País, o complexo de Osório, com 150MW de potência distribuídos em três usinas que estão em operação desde 2006, produziu muito perto de sua garantia. Ao mesmo tempo, as eólicas de Cidreira e Cerro Chato, que passaram a funcionar em 2011, chegaram a apresentar efetividade até maior do que as garantias físicas entre setembro e dezembro.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, minimiza a questão e diz que há algumas imperfeições nos dados, mas garante que a associação está em processo de elaboração de um estudo detalhado sobre o tema. O documento, que em breve será apresentado ao público, é a atualização de dados sobre as usinas de geração a vento que já estão em funcionamento no País.
Para o diretor da Eólica Tecnologia e vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA), Everaldo Feitosa, os dados de avaliação de ventos futuros utilizados na época do Proinfa ainda eram "uma coisa muito incipiente, muito de pesquisa". De lá para cá, as ferramentas estão mais "sofisticadas e com mais precisão para prever o vento". O especialista ainda diz que "isso não ocorreu só no Brasil, mas também em grande parte dos parques na Alemanha e nos Estados Unidos" e com "as grandes empresas do setor".
Mas, como a remuneração do Proinfa é revista a cada ano, de acordo com a geração efetiva das usinas, Feitosa destaca que não há prejuízo para o consumidor. E nem para o sistema, acredita, uma vez que esses empreendimentos representam "uma gota d´água" dentro do Sistema Interligado Nacional (SIN).
O consultor Paulo Ludmer diz que esses dados apresentados pelas eólicas "surpreenderam", mas não acredita que tenha acontecido erro nos projetos. "O homem de negócios não põe a mão no bolso para fazer uma bobagem dessa. O risco é um item importante de cálculo de custo, de retorno de investimento, e não se aumentaria o risco fazendo um projeto meia-boca", analisa.
Para ele, porém, é possível levantar a hipótese de interferência das mudanças climáticas sobre a geração de energia. "Se tiver erro, é da natureza, do imprevisível. Acho que o fator relevante aí é mesmo o vento", aponta. Ludmer afirma que algumas ideias levantadas nos primórdios do Proinfa sobre o conceito de em que momentos há ou não vento não têm se verificado, ficando fora do projetado.
"O mundo não se deu conta de que a mudança climática está em curso. Quanto é culpa da humanidade, quanto é da natureza, é cabível discutir. O que não dá pra discutir é que está havendo comportamentos atípicos. E isso que acontece no vento periga de em breve acontecer com a água", alerta.

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