Órgão aponta que usinas já em operação produziram abaixo do esperado nos últimos dois anos
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) está preocupada com alguns dos parques eólicos já em operação no País. Nos últimos dois anos, a média de geração de energia por essas usinas ficou abaixo de suas garantias físicas. A questão atinge também outras fontes alternativas. Segundo levantamento do órgão regulador, entre 2008 e 2010, essas pequenas usinas renováveis, reunidas, deveriam produrzir algo em torno de 4.300MWmédios, mas geraram cerca de 1.500MWmédios abaixo do que indicam suas garantias.
"Esse número compreende frustração de geração e postergação de obras, usinas que não entraram em operação. Isso afeta o planejamento, a programação de operação e, por consequência, o preço (da energia)", alerta Aymoré de Castro, especialista em regulação da agência. Segundo ele, o impacto desses problemas no custo da energia tem sido apontado por especialistas como algo entre R$10 por MWh e R$30 por MWh.
Castro ressalta que a dúvida da Aneel é se o que tem acontecido é apenas um biênio ruim para os ventos ou reflexo de deficiências no cálculo das garantias físicas dos parques eólicos. Ele lembra que, nos contratos fechados nos leilões de fontes alternativas em 2010, as cláusulas permitem ajustes quadrienais para compensar o mau desepenho ocasional da energia dos ventos. Nos parques viabilizados pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Aneel tem ajustado as garantias anualmente.
Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, a variação na produção das usinas eólicas é uma característica da fonte. "Um dos avanços nos contratos dos leilões de energia é que você pode gerar, em um ano, abaixo ou acima do previsto, uma vez que o ajuste é feito por quadriênio. O que acontece é uma variação natural de um recurso natural, o vento". Simões também lembra que parte dos parques avaliados pela Aneel provavelmente estaria em seu primeiro ano de operação, quando não seria surpreendente obter resultados abaixo do esperado.
Mas, para o técnico da Aneel, uma causa para a defasagem pode estar nas medições de ventos feitas pelos empreendedores em seus sítios. O governo pedia que os dados fossem colhidos ao longo de um ano e, ao mesmo tempo, não possuía uma base para comparação com outros parques na mesma região. "O método é medir no local e correlacionar com outros dados na região. O insumo que temos hoje para fazer as previsões (de geração) não gera uma confiabilidade significativa", aponta Castro.
Ele lembra que os primeiros parques eólicos no Sul do País, que iniciaram a geração em 2006 e 2007, apresentaram bom desempenho, com operação bastante próxima do esperado. Essas seis usinas, porém, teriam sido, conforme conversas que circulam no mercado, conservadoras ao calcular suas garantias, o que poderia não estar se repetindo com os novos projetos, levando às distorções.
A Aneel, porém, não tem intenção de criar métodos para interferir nas medições feitas pelos agentes. "Partimos de que não há uma má fé (por parte dos investidores), mas temos como coibir isso. Talvez seja somente questão da qualidade dos dados. A preocupação não é buscar saber por que isso acontece (as diferenças de geração), até porque o custo para isso seria muito grande", explica o regulador. A verificação dos dados, por exemplo, poderia exigir da Aneel a instalação de torres de medição e outras providências caras e trabalhosas. Para Castro, a melhor opção é fiscalizar os números referentes à geração efetiva das usinas e corrigir as distorções, como tem sido feito com os parques do Proinfa.
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